O mercado de trabalho hoje em dia
está impiedoso e cruel. Tanto é o desalento que nos causa que nos lembra o
livro de Ernest Hemingway. O Velho e o Mar. Onde o velho pescador se debate na
pesca de sua vida, o maior peixe, o mais perseguido por ele e após o capturar o
reboca em seu pequeno barco de pesca e ali vivencia a sua grande aventura...
Somos destruídos aos poucos, sem no
entanto sermos derrotados, ou será que o somos?
São anos de estudo e dedicação,
voluntariado e disposição. Construindo um currículo e uma existência, se
renovando a cada nova esperança, a cada nova possibilidade. Para ali adiante
receber um outro não, um depois ou um talvez. Aos poucos desacreditamos, assim
como o protagonista de Hemingway, vimos nosso peixe ir sendo devorado por
peixinhos miúdos e pássaros oportunistas durante a nossa trajetória. A construção
de um pensar livre, de uma consciência social pertinente e uma quebra de
paradigmas constante e inequívoca se fazem necessárias. Mas a solidificação de
uma esperança consistente acaba se desfazendo a cada negativa recebida.
Como ouvi hoje em uma entrevista do
Professor Clóvis de Barros Filho, que se Sócrates fosse entrevistado por um
chefe de recursos humanos da atualidade, ele seria preterido e em seu lugar
seria colocado um imbecil. Não há como ficarmos contentes ao vermos a
incapacidade de se verificar talentos e quanto de gente boa que não acha seu
lugar ao sol, pois são obedecidos parâmetros e não são se vê pessoas. E ainda
na mesma entrevista ele conta de uma vez que cortaram o seu microfone em um
congresso de ética, onde ele foi ainda desconhecido. Anos mais tarde ele volta ao
mesmo congresso como palestrante e ali não cortam seu microfone, pois no
segundo momento o seu discurso era legitimado pelos seus títulos, ainda que
fosse o mesmo discurso.
Faz dez anos que estou me reconstruindo
e sete anos consecutivos que entro janeiro desempregado, já ouvi tantas vezes
que meu currículo é bom demais que tenho até medo de atualizar ele. Nessa minha
reconstrução estou na segunda graduação e na segunda especialização, fora toda
a experiência obtida em diversas áreas. Trabalhos voluntários e sociais sem fim
e me vejo como o velho, assistindo meu pescado ser devorado por quem nunca
madrugou na lida, nem jamais sangrou as mãos na luta com a força do peixe e do
mar...
E o que resta?
Seguir em frente, continuar estudando, lutando e pescando, envelhecendo e sendo destruído, sem no entanto se deixar derrotar ou sucumbir pela injustiça de um mundo ingrato.