Hoje mais uma vez ouvi de um possível empregador: sei da
tua capacidade e por isto não posso desperdiçar o teu talento em qualquer
coisa...
O desemprego é algo difícil e que assola milhões de
brasileiros, eu sei, tenho enfrentado ele há algum tempo. Recebo excelentes
avaliações em testes psicológicos, elogios e promessas. Mas na hora de
conseguir uma vaga: nada. Não adianta dizer que aceito qualquer vaga, qualquer
função e qualquer salário. Aí a gente sente como se um bom currículo não
bastasse, como se competência não bastasse. Parece que é preferível que não se
pense, que não se tenha capacidade...
No entanto, a cada lugar que se entra, em cada
repartição, estabelecimento ou balcão somos atendidos por pessoas indiferentes
e limitadas. Onde se vai fazer um documento, em plena era digital e
funcionários fazem fotos ridículas e mal batidas para identidades e
habilitações que carregaremos por anos, pelo simples fato de fazerem com má
vontade. Percebemos nitidamente a preferência pelo ‘limitado’ pelo medo de
perder o lugar. Num tempo que atendentes de balcão não conseguem responder
perguntas básicas e são incapazes de pelo menos ‘tentar’ ser simpáticos. Somos
atendidos pelo carro ou pela roupa que dispomos ou pela indicação de alguém.
Quase nada é feito para nós, por nós simplesmente, independentemente de quem
sejamos...
Então num tempo de um circo de horrores, chamado de
eleições, onde os palhaços estão mais para “It, a coisa”, alimentados pelo
nosso medo de pensar e de enfrentar tanta ‘calhordagem’ e patifaria juntas. Ao ponto
de não importar mais nada, nem ninguém além do egoísta ponto de vista de cada
um. Ao ouvir que eu ser ‘culto’ me desabona para tarefas mais simples,
compreendo que a sociedade adoece por esta mentalidade, onde a humildade é
desvalorizada pelo espírito egocêntrico que impera e a ‘ignorância’ estimada
pela facilidade do controle, quando na verdade é esta ignorância (que vem de
ignorar, não querer saber e não de ter pouco estudo) que causa esta situação
que se vive. Onde se prefere a música (entenda-se batidão e me perdoem os
músicos) no volume máximo para não ser necessário nenhum tipo de diálogo (até
por haver uma incapacidade para tal) e não só a erotização de tudo, mas pior a
alienação de tudo e de todos num futuro próximo...
Que possamos rever nossos conceitos e pontos de vista,
que desejemos gente mais capaz, mais gentil e agradável, que tenha o que dizer,
que saiba conversar e argumentar. E que paremos de mudar o perfil na rede
social apoiando causas quando nem se faz tarefas básicas do dia a dia, apoiando
e amando tudo quanto esta longe e sendo indiferentes aos nossos entes mais
próximos e cotidianos. Que se pare de prometer e se cumpra mais, de idealizar e
se realize mais...
Que não cheguem os dias onde a impessoalidade nos leve
para uma total apatia e parasitismo e que ler volte a ser importante e
capacidade seja o ponto principal para vagas serem ocupadas, sejam em empregos,
sejam em cargos eletivos.