sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Capaz demais?


            Hoje mais uma vez ouvi de um possível empregador: sei da tua capacidade e por isto não posso desperdiçar o teu talento em qualquer coisa...
            O desemprego é algo difícil e que assola milhões de brasileiros, eu sei, tenho enfrentado ele há algum tempo. Recebo excelentes avaliações em testes psicológicos, elogios e promessas. Mas na hora de conseguir uma vaga: nada. Não adianta dizer que aceito qualquer vaga, qualquer função e qualquer salário. Aí a gente sente como se um bom currículo não bastasse, como se competência não bastasse. Parece que é preferível que não se pense, que não se tenha capacidade...

            No entanto, a cada lugar que se entra, em cada repartição, estabelecimento ou balcão somos atendidos por pessoas indiferentes e limitadas. Onde se vai fazer um documento, em plena era digital e funcionários fazem fotos ridículas e mal batidas para identidades e habilitações que carregaremos por anos, pelo simples fato de fazerem com má vontade. Percebemos nitidamente a preferência pelo ‘limitado’ pelo medo de perder o lugar. Num tempo que atendentes de balcão não conseguem responder perguntas básicas e são incapazes de pelo menos ‘tentar’ ser simpáticos. Somos atendidos pelo carro ou pela roupa que dispomos ou pela indicação de alguém. Quase nada é feito para nós, por nós simplesmente, independentemente de quem sejamos...
            Então num tempo de um circo de horrores, chamado de eleições, onde os palhaços estão mais para “It, a coisa”, alimentados pelo nosso medo de pensar e de enfrentar tanta ‘calhordagem’ e patifaria juntas. Ao ponto de não importar mais nada, nem ninguém além do egoísta ponto de vista de cada um. Ao ouvir que eu ser ‘culto’ me desabona para tarefas mais simples, compreendo que a sociedade adoece por esta mentalidade, onde a humildade é desvalorizada pelo espírito egocêntrico que impera e a ‘ignorância’ estimada pela facilidade do controle, quando na verdade é esta ignorância (que vem de ignorar, não querer saber e não de ter pouco estudo) que causa esta situação que se vive. Onde se prefere a música (entenda-se batidão e me perdoem os músicos) no volume máximo para não ser necessário nenhum tipo de diálogo (até por haver uma incapacidade para tal) e não só a erotização de tudo, mas pior a alienação de tudo e de todos num futuro próximo...
            Que possamos rever nossos conceitos e pontos de vista, que desejemos gente mais capaz, mais gentil e agradável, que tenha o que dizer, que saiba conversar e argumentar. E que paremos de mudar o perfil na rede social apoiando causas quando nem se faz tarefas básicas do dia a dia, apoiando e amando tudo quanto esta longe e sendo indiferentes aos nossos entes mais próximos e cotidianos. Que se pare de prometer e se cumpra mais, de idealizar e se realize mais...
            Que não cheguem os dias onde a impessoalidade nos leve para uma total apatia e parasitismo e que ler volte a ser importante e capacidade seja o ponto principal para vagas serem ocupadas, sejam em empregos, sejam em cargos eletivos.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Além de mim (Ariel)


Além de mim
Já te vejo além-mar, além das fronteiras
Transpassando meu peito,
 mas conquistando o mundo...ou parte dele
Já não vejo tua linda face, senão na 'selfie' risonha...ou na parede do quarto
Já partistes, já seguistes e segues no meu futuro, 
além de mim treze horas, mas ainda assim tens meu passado 
e és meu maior presente...
Escrevo-te, desde antes de nasceres, percebi todos teus primeiros 'fazeres' 
e agora trilhas muito mais longe, num caminho novo, ‘australiano’, imigrante, cidadão do cosmos...

Na tua própria “Ítaca” recém descoberta, milenar, incomparável, ainda mais contigo aí... 
aprendendo ‘suas línguas’, conjugando seus verbos nos diversos idiomas, mas todos dominados por aqueles que falam a linguagem do coração, dos olhos e da alma, assim como tu, meu filho, que caminhas muito além de tudo aquilo que meus pés já pisaram ou que meus olhos contemplaram, 
muito além de mim, mas sempre dentro do meu coração...


domingo, 5 de agosto de 2018

Sobre o que temos e o que somos...


         Eventualmente somos atingidos em cheio por alguma coisa que nos falam. Por vezes uma simples afirmação ou uma singela mensagem podem tanto nos derrubar como fazer a vida toda fazer sentido. Esta semana recebi uma mensagem do meu filho que me fez ter tantas respostas e tanto acalento que não tenho como mensurar...
         “O nosso tempo é diferente do tempo do universo. Sei que tá difícil e que parece que não vai passar. Sei o quanto tu tem ti esforçado... Por favor, continua assim! Tenho muito mais orgulho e vontade de me espelhar em ti por tu nunca desistir, do que pelo fato de tu ter algo. Te amo.”
         Quando se enfrentou tanta coisa quanto eu tenho enfrentado nos últimos anos, quando se está numa situação de desemprego e de quase se duvidar das próprias capacidades, ler isto faz toda uma diferença, principalmente num tempo de ‘desvalorização’ do ser e supervalorização do ‘ter’...
         Compreendermos que nada do que temos ou aparentamos ter define o que somos. Um bom carro, casa, emprego, salário não fazem uma pessoa boa. Em tempos de ingratidão e de pais e mães ‘caixa eletrônico’ e filhos que consideram ‘obrigação’ dos pais o suprimento de suas ‘vontades’ e não das necessidades. Onde pessoas acham que por terem sido postos no mundo receberam um cartão de crédito ilimitado e ‘exigem’ tudo e mais um pouco, realmente é algo de valor inestimável receber tal afirmação...
         O que quero refletir e fomentar a reflexão é de o que realmente somos? No que temos nos tornado e que tipo de relacionamentos estamos construindo? E isto não só em termos de pais e filhos, mas nos mais diversos tipos de relacionamentos, onde as pessoas se aproximam e permanecem perto apenas de quem tem ‘algo para dar’. Onde religiões que tem nas suas fundamentações a ideia de ‘não ter nem ouro nem prata’ se relacionam uns com os outros, e ainda pior, com o próprio Deus, na base do que podem receber, do que podem ganhar com isto...
         Isto me levou a uma oração de agradecimento por tudo, pelo emprego que não veio e pelos que se foram, pela grana que não entrou e pela que já se foi, pelos benefícios, ajudas e restituições que não vieram e por tudo aquilo que não havia para mim. Tudo aquilo que não ganhei, não recebi e não consegui. E compreendi que Deus, a Vida, o Universo já me deram o espírito, a força e a eternidade intrinsecamente por todo o tempo. E que quem realmente me importa é assim mesmo, não precisam ter nada para que sejam importantes para mim.
         Pelo que somos importantes? O que realmente importa além disto?
         SEJA, por mais que você venha a ter...


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Sobre amar e sobre amores...

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