Na Roma antiga, o Coliseu abrigou as batalhas sangrentas dos
gladiadores, os cristãos (ou qualquer inimigo em potencial de Roma) lançados
aos leões para divertir a turba, espetáculos ‘culturais e sociais’ regados à
violência e ao entretenimento. O ponto alto do evento era ao fim da luta, o
guerreiro vencido no chão, rendido pelo seu rival que aguardava de pé o ‘decreto’
do César, o ‘pollice verso’, o
polegar virado, o polegar para baixo, decidindo pela morte do ‘derrotado’...
Talvez os Césares tenham criado, sem imaginar, o ‘like ou
dislike’ usados hoje nas redes sociais. Parece-me que hoje em dia, como se estivéssemos
num imenso ‘coliseu’, cheios de pseudo césares, autonomeados, onde pessoas
fazem de tudo para alcançarem alguns likes, fingem, dissimulam e editam a
própria existência, numa grande fogueira das vaidades, onde sentamos em nossos
tronos e ‘decidimos’ o que é bom e o que não é bom. O que é ou não belo.
Dirimindo o que serve ou não, o que é digno ou não...
Ignorando realidades e verdades, indiferentes ao esforço
exaustivo de anos por filósofos e estudiosos que se dedicaram a definir o bom,
entender o que é a felicidade, sem no entanto arrogarem para si qualquer êxito.
Pessoas sem expressão, sem simpatia ou
conteúdo se assentam diante ‘do mundo’ para decidir o que ou quem presta ou
não, mas que são capazes de qualquer atividade no mundo real. Dão receitas infalíveis,
ensinam e julgam o seu semelhante sem medo, temor e por vezes até sem respeito
algum...
Pais querem ensinar filhos e filhas com posts, mandam ‘mensagem’
através de publicações, mas são incapazes de sentarem com os mesmos, olhar nos
olhos e conversar sobre o que for preciso. Pessoas ‘oram’, ‘evangelizam’, ‘doutrinam’
e ‘divulgam correntes de ajuda’ para Deus e todo mundo, mas são incapazes de no
mundo real elevar um pensamento de bondade ao próximo, uma atitude, uma palavra
amiga ou ajudar de fato quem quer que seja...
Enquanto sonhos são jogados aos leões, césares modernos
julgam a vida de todos num mundo individualizado e mesquinho, criado com fotos
editadas e ‘relacionamentos sérios’ que parecem piadas, mas que não tem receio
de sentenciar seus semelhantes de forma impiedosa.
Que o nosso olhar consiga ver a vida também através dos
olhos daquele que está caído, derrotado, vencido pela vida e que busca com
esperança a misericórdia daqueles que se assentam nos tronos da vida e que
precisa, além de um polegar para cima, uma mão estendida e um braço que o
sustente, para que possa se erguer uma vez mais...