quarta-feira, 21 de março de 2018

Sobre extremismos...


         A cada dia mais um fenômeno toma conta das redes sociais, e de todos os debates que se propõe, e ainda até nos que nem se propôs. Hoje vi um “post” que dizia mais ou menos assim:

         E é disto que quero falar: polarização e extremismo...
         Há uma radicalização em todos os seguimentos. Não há mais ‘cinza’, de uma hora para outra, ou é preto ou é branco. Se for colorido é gay, se não for gay é homofóbico e se não é de esquerda radical, automaticamente é de direita...
         Estamos criando uma sociedade sem meio tom, sem mediania e sem tolerância. Se você cita uma frase de um ateu, os crentes te trucidam, por vezes sem ler, acredito que se alguém colocar uma frase de Jesus, mas escrever Nietzsche como autor, talvez vejamos uma inquisição se formar e seremos queimados na fogueira...
         O contrário também tem sido evidenciado, intelectuais irados defendendo o ateísmo de forma feroz. Parece que não basta se ter uma posição, crença ou convicção, as pessoas precisam convencer o outro e provarem que estão certos. Cada um defende a ‘sua’ verdade como se fosse “A Verdade”, como se pudessem ter certeza absoluta de coisas que são debatidas há séculos e não ficaram e nem ficarão claras, senão quando morrermos ou sei lá quando...
         E a minha pergunta (retórica) é: O que importa?
         Não tolerar o contrário é um indício de infantilidade, limitação e até de ignorância, independentemente de quantos mestrados e doutorados possa ter...
         Fico pensando se o sábio de fato não tolerar o divergente, como ele confrontará sua premissa? E o crente de fato, se não amar o ateu e considerar seus argumentos, há nele uma fé madura?
         Não sou de esquerda, não sou de direita (sou ambidestro de fato), não gosto do Lula, mas já votei nele, só não sou tolo de não considerar a realidade (não da mídia, a que vejo por mim mesmo). Não sou Bolsonaro, nem serei, não me convence de forma alguma.

         Não sou ateu, mas tenho dúvidas. Sou cristão mas não sou hipócrita, nem me deixo levar, não me considero católico, embora o seja de berço, mas não me considero mais ‘evangélico’ pois entendo que este rótulo, depois do de político é o mais deturpado pelas ações e atitudes dos que os se dizem ser. Não sirvo para este grupo, pois não acredito mais em quem deseja o mal e prega o amor, que foi comissionado a salvar e tem enviado tantos ao inferno. Acho que sou um humilde seguidor da máxima de Jesus de amar como a si mesmo, mas longe de ser exemplo me considero um aprendiz...


terça-feira, 13 de março de 2018

Hoje entendo meu pai...


         Sempre ouvimos dizer que algumas coisas só entenderemos quando passamos por elas, é o famoso ‘sentir na pele’. Muitas coisas sobre meu pai eu não compreendia, algumas são tão distantes que remontam apenas reminiscências e outras talvez apenas tenha ouvido a respeito.
         Temos o costume de redimir dos erros de quem morre, algumas coisas no entanto, apenas perdoamos e jamais compreenderemos, pais e mães não são santos embora quiséssemos que fossem...
         Em uma irônica trajetória de vida, meio Luke e Darth Wader, acabei herdando as semelhanças mais contundentes dele, e por mais que tenha tentado fugir destas paralelas, não obtive êxito. Hoje aos 50 anos, sou um mineiro, assim como meu pai e meus avós foram e começo a compreender algumas coisas que não entendi quando ele ainda vivia...
         Hoje compreendo as latas cheias de parafusos, polcas e arruelas misturadas que ele derramava com um parafuso na mão e dizia enfático: ‘Zé Mauricio, acha um igual a este’. Como eu detestava isto, quantas vezes pensei porque não guardava separados, mas hoje sei que ele deve ter separado pacientemente muitas vezes ‘suas coisas’, suas ferramentas e tudo mais, porem cinco filhos e uma filha e vizinhos, parentes e amigos, talvez misturaram muitas vezes até que já não valia mais a pena arrumar...
         Hoje entendo aquele olhar dele ao ver a casa cheia de pessoas, até vizinhos assistindo TV, quando ele chegava do “serviço”. Percebo o seu desalento ao ver que ele não tinha direito de usufruir o que proporcionava, não lhe cabia a primazia, nem da casa, nem da esposa, nem dos filhos. E falo isto não de forma machista, mas apenas por reconhecimento ou gratidão...

         Refletir sobre isto, me faz lembrar de tantas vezes que ele chegou em casa, mas acabou no bar, por não encontrar o seu lugar. Entender o quanto lhe doía o olhar de reprovação quando ele queria ‘tocar, cantar e beber’...
         Acabamos por desprezar aquele que paga o preço, e um preço alto por tudo aquilo que é proporcionado em nossas casas. E vamos invertendo valores de tal forma que o vagabundo tem mais direitos que o trabalhador e quem faz e se dá é deixado de lado em prol da inutilidade ou a quase inutilidade. E então não compreendemos a irritação e a falta de paciência, não toleramos a sua ‘mesquinhez’ ao alegar ‘comida’ em sua casa, mas na verdade ele apenas sabia o custo de cada coisa, era do suor dele que saía...
         Hoje entendo meu pai, mesmo que não concorde com algumas das suas atitudes e que reprove outras, mas vejo o quanto talentoso ele era, o quanto fez e o quanto poderia ter feito se tivesse obtido oportunidades como as que nos proporcionou...
         Hoje compreendo porque cantava certas músicas com tanta paixão e apenas queria que cantássemos com ele...
         Ficássemos com ele, por ele, apenas um pouco, aceitando inteiramente ele, do jeito que era, pois este era ele, só por isto...
         Compreender nossos pais é mergulhar em nossas origens, aprender com os erros, brindar os acertos e seguir em frente para sermos nós, exatamente como somos e não como querem que sejamos...
         Que possamos valorizar o que tem valor e não o contrário...
         Rumamos para um tempo obscuro, com uma geração mais ingrata ainda do que as nossas e espero que ou a gente tome alguma atitude ou que Deus tenha piedade da raça humana...

sexta-feira, 2 de março de 2018

Sobre a fatalidade e a perda...


         Tem coisas que acontecem, que chocam tanto a gente que fica difícil expressar alguma coisa. Porém as pessoas insistem em opinar e tentar dar explicações...
         Ontem o Jonas, irmão em Cristo, filho, pai e marido, “perdeu a vida” de forma trágica, aos 29 anos de idade. Um trabalhador, fazendo o seu trabalho perdeu a vida. Nestas horas nada do que se disser fará muito sentido, nada confortará a perda e a falta que ele fará nos corações e mentes daqueles que o amavam...
         Também acredito em Deus, de forma parecida com a dele, mas vejo que na nossa falta de conhecimento dos assuntos espirituais, carecemos de compreensão em momentos assim, nossa fé vacila e queremos explicações. Temos o costume de ver a vida como um roteiro pré-ordenado, bem escrito e perfeito. Mas não é assim, Deus não é um anjo ceifador de vidas, nem uma entidade que se alimenta de sofrimento. Não, Ele nos deu a vida, nos entregou esta existência de aprendizado e evolução, para que nós a administrássemos como nos parecesse melhor.
            Não estamos perdidos num filme sem roteiro, mas também não vivemos uma sinfonia perfeitamente orquestrada, mas sim numa existência de causas e efeitos, escolhas e consequências. Não sabemos se ao virar uma rua qualquer não nos depararemos com o fim, num acidente, através da violência ou por um mal súbito.
            Mas não há aí um plano milimétrico e equacionado, mas sim um caminho que se faz ao caminhar e que a cada passo dado, pode tudo mudar e sem a gente saber a vida já não ser mais como era...
            Não existem culpados em casos assim. Não é uma expiação de culpa, ou uma condenação por um único descuido, em uma vida comprovadamente cuidadosa e séria. Não há um plano maligno em ação, apenas uma fatalidade, um acidente, infelizmente fatal.
            Sempre me conforto com um provérbio que diz “O justo é levado, antes que venha o mal”, prefiro crer assim. Acredito que ele está nos braços do pai, e com certeza, tendo a certeza definitiva, de tudo aquilo em que sempre acreditou. Para nós, que aqui ficamos, cabe o olhar atento e o braço estendido para os dele, que também ficaram e precisam de consolo...
            Para ele, as palavras de Jesus:
            “Mas todo aquele que perde a sua vida por amor de mim, acha-la-á...”

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