Sempre ouvimos dizer que algumas coisas só entenderemos
quando passamos por elas, é o famoso ‘sentir na pele’. Muitas coisas sobre meu
pai eu não compreendia, algumas são tão distantes que remontam apenas reminiscências
e outras talvez apenas tenha ouvido a respeito.
Temos o costume de redimir dos erros de quem morre, algumas
coisas no entanto, apenas perdoamos e jamais compreenderemos, pais e mães não
são santos embora quiséssemos que fossem...
Em uma irônica trajetória de vida, meio Luke e Darth Wader,
acabei herdando as semelhanças mais contundentes dele, e por mais que tenha
tentado fugir destas paralelas, não obtive êxito. Hoje aos 50 anos, sou um
mineiro, assim como meu pai e meus avós foram e começo a compreender algumas
coisas que não entendi quando ele ainda vivia...
Hoje compreendo as
latas cheias de parafusos, polcas e arruelas misturadas que ele derramava com
um parafuso na mão e dizia enfático: ‘Zé Mauricio, acha um igual a este’. Como
eu detestava isto, quantas vezes pensei porque não guardava separados, mas hoje
sei que ele deve ter separado pacientemente muitas vezes ‘suas coisas’, suas
ferramentas e tudo mais, porem cinco filhos e uma filha e vizinhos, parentes e
amigos, talvez misturaram muitas vezes até que já não valia mais a pena
arrumar...
Hoje entendo aquele olhar dele ao ver a
casa cheia de pessoas, até vizinhos assistindo TV, quando ele chegava do “serviço”.
Percebo o seu desalento ao ver que ele não tinha direito de usufruir o que
proporcionava, não lhe cabia a primazia, nem da casa, nem da esposa, nem dos
filhos. E falo isto não de forma machista, mas apenas por reconhecimento ou
gratidão...
Refletir sobre isto, me faz lembrar de
tantas vezes que ele chegou em casa, mas acabou no bar, por não encontrar o seu
lugar. Entender o quanto lhe doía o olhar de reprovação quando ele queria ‘tocar,
cantar e beber’...
Acabamos por desprezar aquele que paga
o preço, e um preço alto por tudo aquilo que é proporcionado em nossas casas. E
vamos invertendo valores de tal forma que o vagabundo tem mais direitos que o
trabalhador e quem faz e se dá é deixado de lado em prol da inutilidade ou a
quase inutilidade. E então não compreendemos a irritação e a falta de
paciência, não toleramos a sua ‘mesquinhez’ ao alegar ‘comida’ em sua casa, mas
na verdade ele apenas sabia o custo de cada coisa, era do suor dele que saía...
Hoje entendo meu pai, mesmo que não
concorde com algumas das suas atitudes e que reprove outras, mas vejo o quanto
talentoso ele era, o quanto fez e o quanto poderia ter feito se tivesse obtido
oportunidades como as que nos proporcionou...
Hoje compreendo porque cantava certas
músicas com tanta paixão e apenas queria que cantássemos com ele...
Ficássemos com ele, por ele, apenas um
pouco, aceitando inteiramente ele, do jeito que era, pois este era ele, só por
isto...
Compreender nossos pais é mergulhar em
nossas origens, aprender com os erros, brindar os acertos e seguir em frente
para sermos nós, exatamente como somos e não como querem que sejamos...
Que possamos valorizar o que tem valor
e não o contrário...
Rumamos para um tempo obscuro, com uma
geração mais ingrata ainda do que as nossas e espero que ou a gente tome alguma
atitude ou que Deus tenha piedade da raça humana...
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