Ouvi uma frase esta semana, de alguém que me dizia:
- Nada disto teria acontecido, se tu abaixasse a cabeça e
ficasse quieto!
O comentário me levou a refletir sobre várias coisas e sobre
os muitos aspectos da questão. Pensei em Jesus Cristo e Seu silêncio diante de
seus acusadores...e como ovelha muda Ele
não abriu a boca...
Pensei também no
silêncio das vítimas de abuso, assédio moral e sexual e todo tipo de situação
onde existe o silêncio imposto pelo opressor. Pensei nas milhares de vítimas de
agressão doméstica e ainda nas situações de corrupção e a conivência dos que
sabiam, mas preferiram não falar nada e não abriram a boca...
Penso que Jesus, se
calou diante das acusações feitas contra ele, por saber que não eram verdades,
por saber que era tudo contra ele e somente contra ele, não afetando ninguém
mais. Diferentemente do que agiu durante toda sua ação pública, pois confrontou
a hipocrisia, a omissão, a religiosidade e a corrupção, mas principalmente a
falsidade, sendo o maior defensor da verdade, dizendo que o “SER” dele era a
própria verdade.
Nos outros casos, em
todos eles, há um imperativo nada categórico, que parte da premissa anunciada
em forma de ameaça: Não fale nada senão...
Segundo Aristóteles,
existe o bom cidadão e o homem de bem e a diferença entre eles é simples, o bom
cidadão faz o que as regras mandam e age de acordo com as normativas e nada
mais, enquanto o homem de bem é adepto da ética sempre, é do bem sempre,
independentemente das regras locais. Kant desenvolvendo a sua ética, afirmou
que o que é ético, o que é correto, sempre deve ser a opção que nos move.
Então, devemos entender que discutir
com idiota não leva a lugar algum, mas confrontar uma ação de ameaça, mesmo que
velada ou depois justificada como ‘brincadeira’ é estancar a via da covardia e
a arrogância daqueles que acreditam que sua força está na violência ou na
menção dela (ou seja nas ameaças). É impedir uma opressão continuada de um ‘valentão’.
Enfrentar e confrontar um abusador, uma
ação de assédio, atitudes de corrupção e de plágios ou trapaças, é agir
eticamente, seguindo a própria consciência. Entender que
estamos como estamos, no país, na política, na religião e até no mundo
acadêmico, pelo simples fato de ficarmos calados diante das injustiças e
acabarmos por ‘acostumar’ com o que é errado, e o será em qualquer sistema
ético escolhido.
Porém, hoje em dia, parece que a omissão é premiada. Tirar
uma foto ou fazer um vídeo de uma tragédia ou de um ato de violência, deixando
de prestar socorro ou ajudar de alguma forma é omissão, mas é a escolha da maioria.
E são estas pessoas que dizem “não é da minha conta” e “o que tu tem com isto”
serão as mesmas que quando forem vítimas em situações homogenias, irão postar ‘revoltadas’
sobre a indiferença das pessoas.
A omissão pode ser premiada pelos ‘pares’ participantes dos
esquemas de corrupção (de qualquer tipo desde a cola até a Lava Jato), mas
jamais o será na consciência dos que a praticam, ainda que estes destituídos de
nobreza, não compreendam os motivos de suas insônias, da necessidade dos
antidepressivos, e das ‘mutilações’ autoimpostas para mudar a aparência de si
mesmo, sem compreender que o reflexo do espelho por vezes mostra mais do que se
quer ver e que “a vida não se aprende no espelho”. Sem compreender suas
necessidades constantes de afeto e de aceitação, precisando abrir muitas vezes
as pernas apenas para ser fechada num abraço. Ou ainda daquelas que sendo de
outro biótipo, se vestem iguais apenas para ser uma delas, sem saber que nesta
hora cometem o suicídio do seu ‘ser’ essencial.
Não compreendem também que o prêmio da omissão é a luta com
uma consciência pesada, mas o sono dos justos é tranquilo.