domingo, 25 de fevereiro de 2018

Sobre o prêmio da omissão...


         Ouvi uma frase esta semana, de alguém que me dizia:
         - Nada disto teria acontecido, se tu abaixasse a cabeça e ficasse quieto!
         O comentário me levou a refletir sobre várias coisas e sobre os muitos aspectos da questão. Pensei em Jesus Cristo e Seu silêncio diante de seus acusadores...e como ovelha muda Ele não abriu a boca...
         Pensei também no silêncio das vítimas de abuso, assédio moral e sexual e todo tipo de situação onde existe o silêncio imposto pelo opressor. Pensei nas milhares de vítimas de agressão doméstica e ainda nas situações de corrupção e a conivência dos que sabiam, mas preferiram não falar nada e não abriram a boca...
         Penso que Jesus, se calou diante das acusações feitas contra ele, por saber que não eram verdades, por saber que era tudo contra ele e somente contra ele, não afetando ninguém mais. Diferentemente do que agiu durante toda sua ação pública, pois confrontou a hipocrisia, a omissão, a religiosidade e a corrupção, mas principalmente a falsidade, sendo o maior defensor da verdade, dizendo que o “SER” dele era a própria verdade.
         Nos outros casos, em todos eles, há um imperativo nada categórico, que parte da premissa anunciada em forma de ameaça: Não fale nada senão...
         Segundo Aristóteles, existe o bom cidadão e o homem de bem e a diferença entre eles é simples, o bom cidadão faz o que as regras mandam e age de acordo com as normativas e nada mais, enquanto o homem de bem é adepto da ética sempre, é do bem sempre, independentemente das regras locais. Kant desenvolvendo a sua ética, afirmou que o que é ético, o que é correto, sempre deve ser a opção que nos move.
         Então, devemos entender que discutir com idiota não leva a lugar algum, mas confrontar uma ação de ameaça, mesmo que velada ou depois justificada como ‘brincadeira’ é estancar a via da covardia e a arrogância daqueles que acreditam que sua força está na violência ou na menção dela (ou seja nas ameaças). É impedir uma opressão continuada de um ‘valentão’.
         Enfrentar e confrontar um abusador, uma ação de assédio, atitudes de corrupção e de plágios ou trapaças, é agir eticamente, seguindo a própria consciência. Entender que estamos como estamos, no país, na política, na religião e até no mundo acadêmico, pelo simples fato de ficarmos calados diante das injustiças e acabarmos por ‘acostumar’ com o que é errado, e o será em qualquer sistema ético escolhido.
         Porém, hoje em dia, parece que a omissão é premiada. Tirar uma foto ou fazer um vídeo de uma tragédia ou de um ato de violência, deixando de prestar socorro ou ajudar de alguma forma é omissão, mas é a escolha da maioria. E são estas pessoas que dizem “não é da minha conta” e “o que tu tem com isto” serão as mesmas que quando forem vítimas em situações homogenias, irão postar ‘revoltadas’ sobre a indiferença das pessoas.
         A omissão pode ser premiada pelos ‘pares’ participantes dos esquemas de corrupção (de qualquer tipo desde a cola até a Lava Jato), mas jamais o será na consciência dos que a praticam, ainda que estes destituídos de nobreza, não compreendam os motivos de suas insônias, da necessidade dos antidepressivos, e das ‘mutilações’ autoimpostas para mudar a aparência de si mesmo, sem compreender que o reflexo do espelho por vezes mostra mais do que se quer ver e que “a vida não se aprende no espelho”. Sem compreender suas necessidades constantes de afeto e de aceitação, precisando abrir muitas vezes as pernas apenas para ser fechada num abraço. Ou ainda daquelas que sendo de outro biótipo, se vestem iguais apenas para ser uma delas, sem saber que nesta hora cometem o suicídio do seu ‘ser’ essencial.
         Não compreendem também que o prêmio da omissão é a luta com uma consciência pesada, mas o sono dos justos é tranquilo.


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