A gente nem percebeu que havia angustia,
que havia dor e nem que havia limites prestes a serem alcançados. A gente nem
percebeu que havia palavras guardadas, traumas ou ‘sufoco’ que acabou por
sufocar...
A gente nem se deu conta que tinhas
decidido nem o que havia por decidir. Não se viu que o sorriso talvez fosse
reflexo do riso de outrora, ou quem sabe apenas efeito de nossa moda de ‘selfie’
que gera-se sorriso para qualquer celular ou câmera, mesmo quando não existem
motivos para sorrir...
A gente nem percebe ou se dá conta por
estarmos tão atentos aos problemas das redes sociais e nem mais lembramos de ‘ligar’,
‘visitar’ ou simplesmente abraçar. Vivemos no tempo que o abraço não precisa
mais de braço nem de gente, mas apenas do ‘a’, do ‘b’ e do ‘c’ unidos,
abraçados num ‘abc’ num comentário qualquer...
A gente não percebe porque não vamos
mais do ‘níver da Luzi’, não sentamos no ‘redondo’, não ficamos mais na ‘escada
do clube’ conversando por horas. Não tivemos mais tempo para colher ‘macela’ na
sexta-feira santa, nem de acampar na ponte de arame e ali fazer o nosso
protesto ‘paz e amor’, consternados com a morte do ‘John Lennon’, ‘pichando’
tudo lá com carvão vegetal para as vindouras gerações saberem, mas que sumiu na
primeira chuva...
Eu não percebi e tu não falou,
infelizmente, justo a gente que conversou por horas e horas durante muitos
anos, cantando as músicas juntos na praça, perto do antigo fórum e éramos felizes
mesmo sem saber...
A gente não percebeu e não se falou,
mesmo quando se pode falar e ver pessoas do outro lado do mundo direto de nosso
celular, justo nós que já trocamos cartas, usamos fichas e cartões em orelhões e
até tínhamos que ir na CRT pedir uma ligação...
O mundo ficou pequeno e conectado, mas
as paredes nos sufocaram até te tirarem a vida...
Eu
não sei o que passava na tua cabeça, ninguém sabe e ninguém sabe o que vai na
cabeça de ninguém, muitas vezes nem importa... Até que não adianta mais, até a
gente perder alguém e só então compreender que a depressão é silenciosa (...vem
de repente um anjo triste perto de mim...). E daí se compreende que não é
preciso compreender, mas apenas amar. Que a morte, o suicídio é real, que
atinge gente que a gente ama e nem percebe que está determinando dentro de si
partir...
No mês de combate ao suicídio eu perco
um dos meus melhores e mais antigos amigos e então eu vejo que há muito por
fazer, muito por conversar, muito por combater...
“See you later, my old friend”
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