domingo, 1 de setembro de 2019

Uma resposta para João...


         Durante muito tempo na minha vida estudei as escrituras sagradas, já busquei nelas respostas, alívio, orientação, iluminação, sabedoria e até pretextos para ações e sempre encontrei o que buscava, talvez não da forma que esperava.
         Durante um tempo ainda maior da minha vida eu busquei um lugar para estar e ser enquanto cristão, ainda que não ache que este termo represente o que acredito. Afinal cristão é “um pequeno cristo”, alguém que como Ele busca viver, algo quase inexistente hoje em dia.
         Nestas minhas buscas encontrei um texto interessante, que está no evangelho de Mateus, capítulo 11, versos 2 e 3 que diz:
“E João, ouvindo no cárcere falar dos feitos de Cristo, enviou dois dos seus discípulos,
A dizer-lhe: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro”?
         João Batista, considerado o ‘aio’, último profeta da antiga aliança, precursor de Jesus, nazireu, considerado pelo próprio Cristo o maior dentre todos homens nascidos de mulher...
         João tinha uma pergunta por achar que Jesus faria a ‘libertação’ social e política do povo de Israel, acreditava que Ele era o Messias anunciado que seria o Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores. João queria ver Jesus assumir o trono de Israel e vencer a opressão romana. João almejava o que muitos de nós almejamos hoje, que almejamos sempre: Justiça e Equidade!
         Como todos nós, como eu e você que lê estas linhas, sempre queremos saber se este é o líder que devemos seguir, se este é o lugar para o qual devemos ir ou se devemos esperar outro, se decepcionar mais uma vez, desacreditar uma vez mais...
         Mas Jesus tinha uma resposta para João, algo para acalmar seu coração, aliviar sua angústia, afinal João havia vivido uma vida inteira dedicada a algo que até então nem mesmo uma sombra distante havia visto se cumprir. João como a maioria dos profetas desde Isaías e Jeremias e até mesmo desde Elias não viram nada do que profetizaram se realizar, se cumprir, se concretizar. Como muitos de nós que tanto esperamos sem, no entanto, ter alcançado ainda...
         Jesus manda dizer que vão e digam a João tudo que vocês viram e ouviram (v.4), não lhes manda com ‘conversas ou promessas’, lhes diz para irem e dizerem das coisas que estavam diante deles, que podiam comprovar, serem testemunhas. E aqui cabe uma observação, não fale do que ‘ouviu dizer’ ou do que ‘espera que um dia aconteça’ mas sim de fatos, de coisas das quais você pode testemunhar.
         E o que eram estas coisas que Jesus manda que falem:
Os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho.
E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar em mim
. (v.5 e 6)
         A verdade é que o que Ele responde é que as pessoas passaram a enxergar quando já não tinham esta capacidade, sua visão abriu, alguns que não viam nada diante de si, passaram a ver, enxergar, captar, perceber. Por isto podemos presumir que o primeiro ‘sinal’ de que este (que você segue, ou o lugar onde O busca) é o que temos esperado e buscado é se as pessoas veem. Se as pessoas passaram a enxergar ou limitaram sua visão.
         Também é que os que não conseguiam caminhar, andar, se mover, progredir estão fazendo isto, se as pessoas que estavam paralisadas saíram de suas letargias e andaram, ou se ainda estão do mesmo jeito, no mesmo lugar, na mesma condição é um outro ‘sintoma’ de que Ele está por perto...
         Se as pessoas estão sendo purificadas, se livrando de sua sujeira e imundície de mente, sentimento e caráter assim como fisicamente, ou se a impureza das maldades, corrupções, fofocas e degradações estão sendo retiradas de seus corações e ações é um outro bom ‘sinal’ de acerto...
         Os surdos estão ouvindo é para além da capacidade auditiva, é estar aberto, receptivo e atento às palavras e sons, é estar pronto para receber, ouvir e crer, uma vez que a fé vem pelo ouvir...
         Ou o que temos são pessoas incapazes de ouvir, que tapam os ouvidos ao clamor, ao choro e ao apelo dos que sofrem? Impossibilitados de escutar o outro, de dar suporte e amparo, intransigentes e extremistas que não escutam ninguém?
         Uma outra coisa devia haver para que João e para que também nós pudéssemos saber se o caminho a ser seguido era aquele, ou este, que os mortos ressuscitassem, ou seja pessoas, que como eu já estive um dia, dadas como mortas, vencidas, subjugadas e destruídas, sem futuro ou esperança, voltassem a vida, a viver, produzir, andar, ver, escutar e se tornarem limpos. Voltarem a ter o nome e o coração limpos, então estariam voltando a vida, ressuscitando...
         E por fim, mas não menos importante o outro sinal era que aos pobres estaria sendo pregado as boas novas, se os pobres tem recebido boas notícias ou, como se vê, estão sendo surrupiados, enganados e roubados?
         Por fim, Jesus encerra dizendo que feliz é aquele que não se choca Nele (bem aventurado aquele que não se escandaliza em mim), ou seja, que não se melindra, se transtorna, não encontra Nele confusão ou vergonha...
         Acredito que há por aí, milhares de João(s) ou o nome que tiverem, que assim como eu fazem esta pergunta, que realmente querem entender e saber de fato se estão no caminho certo, se devem ir em frente, seguir... Que cada um destes, de nós, possam entender isto, saber avaliar e talvez perceber que hoje, não há lugar algum que se encaixe nesta definição, nesta resposta, pois muitos e muitos têm, após terem ido para igrejas ou ministérios, ficado mais e mais distantes disto...
Não andam se o líder não mandar, paralisados. Não são puros, ao contrário, ficaram mais maliciosos, fofoqueiros e invejosos, cheios de maldade e mentiras, apodrecidos. Não escutam ninguém, não dão ouvidos a não ser para o seu ‘ídolo gospel’, ensurdecidos. Não vivem, estão numa agenda sem fim, não se divertem, não produzem, amortecidos. E não são felizes, reféns de manter os ‘arautos da fé’ em sua boa vida e luxo, empobrecidos.
Embora o texto seja longo, se você chegou até aqui quero dizer uma última coisa: Construa em você este lugar, seja você esta resposta e como disse o poeta, ‘plante seu jardim ao invés de esperar que lhe tragam flores’...



quarta-feira, 1 de maio de 2019

A filosofia não vai acabar...


         A filosofia não vai acabar, mesmo que as verbas sejam cortadas. As faculdades não serão destruídas ou extintas, mesmo que o poder se oponha a elas. O pensamento não se estanca, a liberdade não se deixa aprisionar, mesmo que a mediocridade domine e se faça valer de decretos, mandos e desmandos...
         Ainda que todos os ditadores da história tenham atacado a educação, a filosofia e a sociologia, em todas as ditaduras que já existiram, desde a morte de Sócrates ao não abdicar de suas ideias, ou da morte de Jesus (que alguns insistem em que ele tenha sido filósofo) ao ser acusado injustamente pelos defensores da religião e da casta religiosa. Ainda assim o pensamento emerge, vaza e extravaza sobre aqueles que o tentam conter...
         Ainda que se tenha sérias dúvidas da racionalidade dos povos e da lucidez dos poderosos que pensam poder fazer sucumbir o livre pensar, ainda assim a sabedoria cativará e o aprendizado será transmitido. A filosofia existe e continuará existindo mesmo que a maioria ainda não entenda muito bem o que ela significa. Ainda que os políticos ataquem justamente suas bases, afinal Aristóteles que deu lá nos primórdios as bases da democracia, da política e da cidadania. O eixo da ‘polis’, de onde descende a ‘politéia’, de onde eles se esbaldam sem conhecer e se regalam, originou-se nas bases que eles atacam, e o que se pode esperar de qualquer construção que ataca seus alicerces?
         Como disse Mário Quintana: “eles passarão, eu passarinho”...
         Os que amam a sabedoria não serão subjugados por armamentistas que tiram a verba do saber e colocam na proliferação da violência, das tolices em rede nacional e a dilapidação de tudo que abriga algum tipo de valor, seja educacional, ecológico e verdadeiro. Se Descartes está minimamente certo no ‘cogito’, estes logo não existem. Se Heidegger que ‘atualizou’ o ‘cogito’ nos denota sua máxima, logo sabemos que estes se algo são, o são apenas num pequeno espaço finito de tempo, enquanto a filosofia segue seu curso e a construção do saber histórico, factual e principalmente filosófico para além dos limites do hoje, pois seremos crescentes no saber, mesmo que nos cortem as verbas. Afinal a filosofia, que nasceu ao ar livre e se desenvolveu com olhares nas estrelas, na natureza e no próprio coração do homem, seguirá sua jornada, nas mesas de bar, nos bancos de praças e com o olhar nas estrelas sempre descobrindo muito mais do que se esperava e mais do que os poderosos queriam que fosse descoberto.
         O céu foi desvendado, inicialmente pelos filósofos, assim como foram estabelecidos as bases para a matemática, a ciência, a estética, a biologia e a psicologia. E assim seguiremos desvendando a metafísica e a quântica, como sempre foi feito, para além dos pensares medíocres e limitadores de um governo de incautos que nem mesmo imaginam o que poderia ser administrar, pois nem cidadãos são e há dúvidas de que raciocinam...

sábado, 13 de abril de 2019

Imagem filtrada...


         “O processo de filtragem é feito utilizando matrizes denominadas máscaras, as quais são aplicadas sobre a imagem”.
         Há hoje em dia uma prática comum, o uso de filtros de imagens, qualquer pessoa que tem um celular, utiliza-se destes aplicativos para ‘melhorar’ suas fotos. É um tipo de maquiagem para a foto...
         Não sei se por ser do tempo das fotos que precisavam ser ‘reveladas’ em laboratórios fotográficos, onde não sabíamos como ‘íamos sair na foto’, ou se por estar já há anos estudando e cultivando palavras estranhas aos convívios sociais de hoje, tais como transparência, sinceridade e verdade. Que talvez eu estranhe as pessoas não se assumirem exatamente como são...
         Aí não tive como não ponderar sobre isto, sobre quais os filtros, quais as máscaras que temos aplicado sobre a imagem que apresentamos aos outros?
         Percebi que desde os tempos do ‘pó de arroz’ que as pessoas ‘maquiam’ a verdade, não gostam de si, não se aceitam. As ‘plásticas’ permitiram mudanças ainda mais drásticas e fazem com que a Anita pareça com o Michael Jackson, mesmo que este não fosse o objetivo. Não sou contra plásticas, maquiagens e nem filtros de imagem (digo antes que algum criador de polêmica me acuse), mas sou um homem em busca do autêntico e achei a metáfora justificada.
         Por isto espero que cada leitor e amigo possa refletir sobre si mesmo. Este não é um texto para ser lido pensando que isto se aplica ao fulano (como muitos ouvem o sermão na igreja), mas para ser introjetado e feito de perspectiva pessoal contra si mesmo, pois ninguém que não se avalia pode avaliar alguém. Somos feitos de idiossincrasias e dualidades conflitantes, levados ao cinismo em uma sociedade cínica e que ensina a ser falso todos os dias.
         Cabe a cada um de nós a reflexão e o assumir dos erros. Somos quem somos e fazemos o que fazemos sem nunca assumir nossas misérias e até quando o fazemos, logo nos justificamos e pomos a culpa em alguém ou em alguma coisa. Nossa vida está como está pelas nossas escolhas. O Brasil está como está pelas nossas escolhas, não foram alienígenas que assumiram o controle, foram pessoas que receberam a maioria dos votos válidos. Não foi este ou aquele que roubou,foram praticamente todos. Não foi o governo anterior que fez caos na educação, foram estes três meses de desgoverno...
         Foram erros, escolhas e votos que fizeram o quadro que vemos hoje. Assim como da mesma forma, na nossa vida pessoal fomos a gente mesmo que fez o que está aí. Foi a nossa tendência a ‘melhorar’ a nossa imagem, ‘maquiando’ a verdade sobre nós e sobre nossas péssimas escolhas...


quarta-feira, 10 de abril de 2019

Lojas de amigos?


         Li o meu primeiro livro aos sete anos de idade: O Pequeno Príncipe (de Exupéry). Nunca mais parei de ler e nem de fazer amigos. Conta-se do menino Zezinho no portão da casa em São Leopoldo, RS que ele perguntava a quem quer que passasse: - Oi, quer ser meu amigo?
         Sempre os levei muito a sério e tenho amigos daquela mais tenra infância até hoje, que fazem parte da minha vida, da minha história e do meu facebook. Tenho amigos de mais de 40 anos de amizade e que são leais e sinceros até hoje. Não mudaram quando tive as mais variadas fases e formas de expressar minha fé, minhas ideologias e meus pontos de vista. Desde o tempo de ouvir Bohemian Rhapsody do Queen, num ‘toca fitas K7, auto reverse’ num opala SS, neste mesmo bairro onde o Zezinho buscava amigos e jogava tacos.
         Tenho amigos que me viram pregar o evangelho, definhar na dependência e me reerguer e sempre mantiveram a mesma afinidade, afeição e respeito. Tenho amigos que já viram minha face pior e nem por isto deixaram de serem amigos...
         Mas houveram pessoas que chamei de amigos, afirmei que eram amigos e fui amigo sobre as mais diversas circunstâncias, mas não eram, nunca foram.
         Hoje em dia como diz no livro, ‘os homens não têm mais amigos pois compram tudo pronto nas lojas e como não existem lojas de amigos...’ Nas últimas semanas vi isto de perto e mais intensamente e percebi que num mundo narcisista e ególatra é cada dia mais difícil altruísmo e sinceridade, as pessoas aproximam-se de acordo com seus interesses, querem concordância quanto as suas atitudes e julgam nossas escolhas.
         Nos últimos meses e até mais que isto, revi minha vida, revejo-a sempre e desta forma pude perceber que muitas pessoas que eu acreditava gostarem de mim, se tornaram indiferentes, outros que nunca pensei poderiam de alguma forma me dar apoio e apostar em mim, fizeram justamente isto.
         Vi também que há sempre mais gente para julgar e que o sucesso incomoda e como diz Leandro Karnal, se você quer ver se uma pessoa gosta de você, veja se ela vibra com seu êxito, enquanto que os ‘falsos amigos’ só acham bom quando você está na ‘lona’ e o juiz anuncia o ‘knockout’, pois é mais confortável ter pena do fracassado do que lidar com o êxito e o crescimento daqueles que achávamos serem ‘menores’...
         Sempre me alegrei com o sucesso de todos, sempre apoiei as diversas iniciativas, mas infelizmente na maior parte das vezes enfrentei o despeito, o negativismo e o cinismo. Mas nada disto me faz mudar, sou verdadeiro, sou autêntico e sei reconhecer meus erros, voltar atrás e começar de novo quantas vezes for necessário...
         Tenho amigos, por saber que somos sim eternamente responsáveis por aqueles que cativamos e que a minha credibilidade é a coisa mais importante que já conquistei e que me custou e me custa muito caro.
         Não preciso dos aplausos, não os busco. Não quero os holofotes (afinal eles, nos olhos, cegam mais que iluminam), prefiro ser farol que neon, ponte do que palco, transparência do que vitrine e principalmente amigos do que fachadas.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

O mesmo rio?


         Mudar...
         A nossa resistência em relação às mudanças é proporcional ao nosso desejo de que elas aconteçam. Porém a maioria de nós reclama diariamente de diversas coisas que não nos movemos para mudá-las. Mudar não é fácil, acomodar-se é!
         Por isso apesar de acharmos a situação ruim, ficamos nela. Muitos reclamam do trabalho, do salário, da função, outros da relação, do(a) parceiro(a), do casamento e da família. Da casa, do carro, do curso, da formação...
         Mas a verdade é que resistimos à mudança, somos paradoxais e mesmo reclamando de tudo, nos revoltamos com quem nos ‘desaloja’, com quem nos ‘desacomoda’. Aplaudimos quando um chefe põe o colega a trabalhar, organiza o setor, do outro, e faz a coisa andar. Desde que não venha para o nosso lado, desde que não mexa com a gente.
         Sou um homem de mudanças, não gosto da mesmice e jurei para mim e pedi a Deus que por onde eu passasse as pessoas soubessem que ali estive, que por ali passei. Não procrastino, pois já procrastinei demais. Não me acomodo pois já me acomodei demais, esperei demais e sofri demais. Descobri que as coisas que se acumulam um dia me sufocarão e que os fios soltos deixados por fazer, um dia me enrolarão e me impediram de ir adiante.
         Só não realizo o que não está em minhas mãos, só espero o que não depende de mim. Na verdade não compreendo os que são morosos, os que acumulam problemas, procuro ser um solucionador de problemas.
         Compreendi que nunca paramos de mudar, que a questão filosófica do ‘ser’, uma das mais antigas, nos ensina que nada é exatamente igual, imutável e que mudar é parte essencial da nossa existência. Modificamos o tempo todo, deixamos células em toda parte por estarmos em constante renovação, em constante evolução temporal e existencial e que o agora já é passado assim que um milésimo de segundo passou. Que a pessoa que olhamos no espelho é um outro muito diferente hoje do que já foi um dia, que o que pensávamos ser certeza hoje nem entendemos como pudemos ter acreditado naquilo.
         Então estejamos abertos e prontos para mudar, mesmo que seja desconfortável inicialmente, pois se realmente queremos uma vida melhor, diferente, não será fazendo as mesmas coisas da mesma maneira. A melhor definição de insanidade é “fazer as coisas do mesmo jeito e esperar resultados diferentes”. Mudemos!!!

quinta-feira, 21 de março de 2019

Construindo pensamentos, destruindo preconceitos...


            A construção do pensamento filosófico é uma jornada sem fim e passa por diversas mentes que não se adequaram ao modo raso de pensar. Foram instigados a ir além, a questionar, a se abstrair e se abrir ao novo, as novas ideias e até as possibilidades de novas ideias antes mesmo de elas surgirem...
            Embora não sejamos ‘os pensadores’ construímos nosso pensamento para além de nossas idiossincrasias, talvez tenhamos alterado a ordem cronológica do pensar e construído o nosso modo autônomo na contramão, nos deparamos primeiro com o “cogito” de Descartes e pensamos existir para depois nos questionarmos se de fato existimos ou ainda se existe um mundo ‘real’ ou exterior, em alguns momentos afirmamos de modo socrático que nada sabemos e que isto talvez nos ponha em alguma vantagem sobre os que pensam saber. Mas nos deparamos que saber que nada sabemos seria um argumento sem valor de verdade, pois saber que nada sabemos já é saber alguma coisa.
            Então vamos neste imenso diálogo para além dos tempos e eras, debatendo algumas vezes com os do passado e em outras soltando a pergunta para que lá no futuro outros que hão de vir responderem, mas sempre debatendo, não como quem combate, que necessita vencer, mas como quem busca aprender, que questiona muitas vezes sem a pretensão de alcançar as respostas, pois compreende que a certeza não é a mesma coisa que a verdade ou o conhecimento, pois se pode ter certeza de coisas que na verdade nem são de fato.
            Desta forma brindamos aos céticos, por terem a coragem de duvidar e compreender que se pode suspender os juízos, se abster das certezas do senso comum, simplesmente para ter este andar ‘suspenso’, acima dos vaticínios e assim realmente ser livre. Pois a liberdade de pensamento é estar livre dos dogmas, sabendo, ou acreditando saber que se pode crer e ser cético conjuntamente e ainda assim ser mais coerente que a grande maioria...
            Ir além do mesmo rio, sair da caverna e seguir em frente, ainda que hajam dúvidas de nosso existir, fazer deste agora a grande ‘sacada’ de nossa vida...


sexta-feira, 15 de março de 2019

Aquela que não desistiu...

        Hoje fazem 4 anos que ela partiu, passei pelo quarto onde ela expirou. Depois de passar a noite com o Paulo e a Bel, cheguei para ficar com ela naquele dia quinze de março de 2015. Eu disse para o meu irmão que não queria ir embora: - Pode levar quinze minutos ou quinze meses. Quinze minutos depois eu ligava para ele voltar, a mãe tinha partido...
        Logo que ele saiu, cantei uma música para ela, fiz uma oração e disse: - Mãe, estamos todos bem, pode ir em paz, a senhora conseguiu, descansa agora... E ela expirou pela última vez, segurando minha mão...
        A última grande missão dela foi não desistir de mim. Hoje, quando completei os dois meses na posição de diretor do hospital eu senti que ela estaria feliz, que se sentiria realizada, que de uma certa forma esteve ali...
       Ela não desistiu dos filhos, não desistiu em meio as lutas, enfrentou as dificuldades e nos ensinou em cada ato, em cada dificuldade. Aprendeu tudo que pode, costurava, fazia tricô e cozinhava como ninguém. A maior economista que conheci. Nunca desistiu de mim, nem de ninguém, tolerou as dores até o fim e só partiu ao ouvir de mim que estávamos todos bem, seus filhos, seus netos e netas, bisnetos e bisnetas...

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Ninguém nunca ligou...


            Esta semana, após encontrarmos um equipamento que estava guardado, testá-lo e verificar se funcionava, alguém me disse: “Ninguém nunca ligou”...
            Quem ainda me lê (já que muita gente resolveu achar que não devo ser lido por não pertencer ao ‘mesmo lado’), mas quem me conhece sabe que existem frases, palavras ou expressões que me causam o escrever sobre. E esta frase causou isto...
            Seguimos nossas vidas, dia após dia, cada vez mais individualistas, cada vez mais egoístas e menos interessados no que não nos importam. Achamos que não é nosso problema, justificamos que não nossa culpa, nossa responsabilidade ou ainda que não nos importa. Vivemos uma crise econômica e de sustentabilidade e achamos que não importa se desperdiçamos água ou luz, se não reciclamos. Mas mudamos o perfil e adotamos alguma “hashtag” em favor de golfinhos, tartarugas e baleias para ‘apoiar’ a causa, desde que não precisemos abdicar dos canudinhos de plástico...

            Quando nos deparamos com desperdícios no setor público, sinais de corrupção ou beneficiamento de alguns protestamos e revindicamos por justiça e equidade, mas não estamos dispostos a abrir mão das ‘horinhas’ extras em favor de alguma causa, ou ainda de fazer um pouco mais, ajudar o colega, mesmo de outro setor para que a entidade ou empresa possa atravessar a crise. Achamos que é ultrajante e quase um crime (e é!) quando equipamentos se perdem sem nem mesmo serem utilizados, quando verbas não são conseguidas por causa de prazos perdidos ou por descaso dos responsáveis...
            Mas a pergunta mais importante é: - E eu, o que tenho feito?
            Até onde estou indo em favor da coletividade, quanto estou disposto a fazer para que a entidade, empresa, cidade, estado ou país dê certo?
            Ninguém nunca ligou? E eu, você, nós por que não fomos lá ligar?
            Ninguém nunca se importou? E nós, o quanto temos nos importado?
            Ninguém nunca fez? E nós, o que estamos fazendo?
            Barulho, discurso, reclamações, ideias e opiniões todo mundo tem, faz e dá, mas soluções, decisões e ações, quem tem decidido fazer?
            Sejamos os que ligam, abrem, fazem, resolvem, decidem e mudam a história, pelo simples fato de fazermos o que ninguém fez!


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

O que guardamos nos olhos?


            Já faz um tempo que não escrevo. O tempo que falta, a demanda que sobra e a urgência do dia, a emergência dos fatos...
            Também tem um tempo que não posto fotos e algumas pessoas me perguntam por quê? Comecei a escrever mais há sete anos e produzi mais de mil textos, já escrevi nos jornais, no blog e escrevi um livro neste tempo, fiz artigos filosóficos e alcancei mais de 120.000 visualizações dos meus textos. As fotos começaram no jornal, antes das modinhas de “selfie” e gosto muito de captar as coisas, as luzes a beleza escondida e tentar de alguma forma mostrar aquilo que acredito que as pessoas não viram ou perceberam.
            No último fim de semana, chegando à praia, vi uma cena maravilhosa, única e me dei por conta que eu não queria fotografar, que se fosse ‘capturar’ a imagem eu a perderia por instantes...
            Então refleti sobre coisas que estão me fazendo rever posturas. Em coisas que tenho observado, que não são novidades, que estão nos engolindo na verdade. A nossa dependência tecnológica crescente, a necessidade de fotografar, de postar, de mostrar de publicar...
            O nosso narcisismo e ‘os lagos de narciso’ que carregamos nas mãos e nos olhamos a perder de vista, a perder do tempo, a perder da vida...
            Tenho descoberto que existem coisas que são nossas, apenas nossas e de mais ninguém. São coisas que guardamos na nossas mentes, únicas, indizíveis e indivisíveis. O que guardamos nos olhos...
            O que levamos na mente, o que só nós ouvimos e vimos. Coisas, lugares, pessoas, momentos e situações que não são a rolagem de uma ‘timeline’ ou notícias de algum tabloide. São coisas escritas, registradas, implantadas no mais íntimo de nosso ser. Escritas no coração e na mente de uma forma que jamais entenderemos...
            Coisas para serem apreciadas, e não postadas. Saboreadas e não divulgadas, vistas com a solene reverencia do existir intimista de nós mesmos e guardadas no coração para sempre...
Esta obviamente não é a foto de quando chegávamos, mas é bela...

domingo, 6 de janeiro de 2019

Ele é abençoado...


            O primeiro texto que te escrevi tu ainda estava em formação, no 6º mês de gestação. Eu era um garoto e ia ser pai e li um texto na Bíblia onde Isaque abençoava seu filho e tinha uma frase que dizia: Eu abençoei e ELE SERÁ ABENÇOADO, e com isto na cabeça te escrevi a primeira carta, que acredito que tenhas até hoje...
            Quando tu publicou esta foto ontem eu resolvi te escrever outra vez, mais uma das tantas que já fiz. Têm sido difícil estar longe de ti e não escrevo mais para que nossas emoções não desandem, afinal só a distância em si já é demais. Mas hoje precisei fazê-lo, sabes que é assim que organizo esta minha cabeça quase maluca, escrevendo...
            Ao ver esta foto lembrei tantas coisas que é difícil escrever, mas vamos lá. Lembrei do dia que tu com pouco mais de quatro anos insistiu em ir ‘comprar leite’ no bar da esquina em pleno Santo Afonso, Novo Hamburgo, e deixamos. Tu começou a demorar e fui atrás e lá estava tu, tinha posto a caixa de leite na beira da mesa de sinuca e estava ‘jogando uma partida com os adultos, na pontinha dos pés’. Ali de uma certa forma eu vi que tu ganharia o mundo, te adaptaria, venceria o que fosse...e seria abençoado!
            Ainda menino foste ‘negociando’ comigo a cada vídeo game, comprei o primeiro e depois tu foi ‘brickiando’ e ‘dando teu jeito’ e foi tendo cada vez o que tu queria conquistar. Com pouco mais de 14 anos foi trabalhar no “Boi na Brasa” lembra? Virou noites trabalhando na sorveteria e nunca mais parou...e seria abençoado!
            Hoje estás aí meu filho, 13 horas ao meu futuro, estivestes sempre no meu futuro, este é o teu lugar, mesmo que geograficamente esteja em qualquer outro lugar, e serás abençoado!
            Tenho tanto amor e orgulho de ti que quando vejo tua foto nem me acho digno de ser pai dos filhos que tenho, de ser teu pai, mas daí agradeço a Deus por ti e Ele sussurra no meu coração: E ele já é abençoado! Te amo.


Postagem em destaque

Sobre amar e sobre amores...

Em duas célebres explicações de amor, de amizade, estas me encantam... Michel de Montaigne ao dar conta sobre sua amizade com Étienne de La ...