Ficamos em silêncio, fingimos não ver e
nos omitimos muitas vezes na vida. Somos espectadores de tanta crueldade que
até nossos sentidos se embotam e acabamos por calar diante da injustiça, do
abuso, da violência e de tudo que nos constrange...
Conheci hoje ‘pessoalmente’ a Dani, que
teve coragem e está compungindo o nosso coração com sua triste história, mas
com uma magistral narrativa. Não sei se serei considerado amigo por ela, mas
sei que ela tem a idade da minha filha...
Mas a Dani não é a única, nem a última
infelizmente. O perigo desta natureza (ou seria ‘antinatureza’) é infiltrado
nas dependências familiares e na intimidade da casa, é feito por gente com nome
e grau de parentesco, com ‘proximidade’, talvez demais até...
E o pior é que quem já sofreu se sente
culpado, eu sei, e acredita que causou aquilo...
Não queremos que seja com um dos nossos,
nem o abuso, nem a violência. Mas se é o causador que é próximo, então a
família vem com o deixa disto, com o ‘será que ela não tá inventando’, será que
ela não provocou?
Vale lembrar que não estou falando de relações
incestuosas entre pessoas de idades próximas e com querer de ambos, mas sim de
crianças sendo abusadas, violentadas e até estupradas. Sem desejar, sem nem
saber o que é desejar, sem ter amadurecido o suficiente para sequer saber o que
estava acontecendo...
E nos calamos, e nos calam e fingimos
não saber do que se trata, pois não queremos criar ‘caso’ no ambiente familiar
e denegrir ou manchar o nome de um ‘pai de família’ por causa do ‘capricho’ de
uma menina que quer chamar a atenção...
Quando na verdade tudo o que elas
queriam era não ter chamado a atenção destes animais...
Não tenho nenhuma solução ou reflexão
neste texto, apenas um gemido de dor lancinante por estas crianças que muitas
vezes gritaram ou balbuciaram: para tio, para pai, para vô e mãe me ajuda...