domingo, 8 de abril de 2018

A insustentável leveza do ser...


         A fragmentação da essência individual de cada pessoa acontece no decorrer da existência. Muitos de nós, mesmo que sem perceber, vai subjugando sua própria identidade. Nosso maior erro é querer ‘agradar’ pessoas ou grupos, se ‘conformar’ às situações e abdicar de princípios próprios por ideias coletivas.
         A ‘conformação’ é a atitude de ‘se moldar’, se formatar a algum condicionamento e desta forma ser mais um. Não falo aqui de uma atitude de discordância continua, mas sim de um modo de ser pensante e cognitivo, capaz de manter-se íntegro e idôneo.
         Perceber as coisas que são ‘nossas’, sejam ideias, ideais ou ideologias e dentro destas ainda distinguir coisas que realmente pensamos das que apenas agregamos de outros é um exercício fundamental na busca filosófica. Para se entender a construção do pensamento é preciso ser pensante. Da mesma forma que só somos capazes de amar alguém, se antes disto houvermos aprendido a nos amarmos e construirmos a inteireza essencial de nós mesmos é algo fundamental.
         Por isto, hoje em dia muitos citam frases de outros, sem conhecimento ou a vivencia para a máxima expressa, apenas por acharem a frase ‘bonitinha’. Citar Nietzsche apenas para dar a ideia de saber ou conhecimento ou ainda Kant para explanações éticas, de nada vale se não houver em mim uma essência de conhecimento ou um sentimento ético.

         Assim como não posso ‘dar aula’ daquilo que não me capacitei, não poderei também ser considerado verdadeiro nas minhas argumentações em assuntos que, ainda que tenha lido, não domino de forma efetiva. E dominar de forma efetiva é além de buscar a fundamentação literária, absorver este conhecimento e agregá-lo ao meu conhecimento empírico e existencial, filtrando tudo através de uma consideração racional e intelectiva, baseada nos conceitos dos quais realmente acredito. Aquilo que realmente está em mim de forma profunda, será percebido no meu falar e confirmado no meu agir se isto fizer parte do que realmente sou.
         Por tudo isto, se torna necessário a ‘reconstrução’ de nós mesmos e de nossa mais pura essência. Que possamos deixar de lado o dogmatismo e a rotulação simplista, se conhecer de forma profundo é saber quem se é de fato e mais do que isto, fazer uma análise sincera e coerente sobre as coisas das quais dizemos acreditar, em detrimento daquelas que são crenças de outros, sejam religiosas, políticas ou das áreas acadêmicas.
            Não somos esquerda ou direita, evangélicos ou ateus, homo ou héteros, somos pessoas e desta forma temos uma ‘personalidade’ única. Ainda que se tenha esta ou aquela ‘convicção’, estas são passíveis de mudança e podemos mudar de opinião também, mas jamais poderemos mudar nossa essência mais intima e profunda, sob pena de deixarmos de ser nós mesmos. Seja você mesmo, deixe de ser um rótulo, uma sigla ou qualquer coisa que não você. Pois só assim se encontra a paz de espírito e o pleno ‘ser’.

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